Manter as contas em dia e, ainda, guardar dinheiro todo mês tem sido um desafio para boa parte da população brasileira nesse período de instabilidade econômica. Isso é o que aponta o levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria - CNI para o Instituto FBS Pesquisa, com foco na situação econômica e hábitos de consumo da população. O estudo, que entrevistou presencialmente 2.008 pessoas, mostrou que 19% dos entrevistados não conseguem pagar todas as contas e deixam algumas para o mês seguinte; já 44% conseguem quitar tudo, porém não sobra nada; e 29% administram bem o dinheiro e guardam um pouco quase todo mês.
Embora o cenário econômico pareça desfavorável para pensar em investimentos, o momento atual pode oferecer boas oportunidades para quem tem alguma reserva. Para o administrador André Massaro, coordenador do Grupo de Excelência em Administração Financeira – GEAF, do Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP, o recomendável é que a prática se torne um hábito e não algo pontual.
“O ideal seria que as pessoas conseguissem separar um percentual da renda para investir e, assim, compor um patrimônio a longo prazo. Não existe momento bom para isso, o que muda naturalmente é a estratégia do investimento”, esclarece o administrador.
Melhores investimentos em tempos de crise
Antes de escolher as opções de investimento é importante entender a crise, que pode ser pessoal ou coletiva. Segundo Massaro, quando a crise afeta a sociedade, mas a pessoa está bem financeiramente, esse pode ser o momento de investir em ativos até mais arriscados, como a Bolsa de Valores, por exemplo.
“Com o aumento da taxa de juros, o investimento na Bolsa não é atrativo no geral, pois o mercado de ações compete com essa alta de juros. Entretanto, a Bolsa de Valores brasileira caiu tanto desde a metade do ano passado pra cá, que mesmo nesse cenário muitas oportunidades apareceram, como é o caso de algumas empresas que estão com suas ações negociadas a preços muito baratos. Então, para quem tem um uma situação financeira organizada e um baixo risco de perda de receita, a Bolsa pode ser sim uma oportunidade”, diz o administrador.
Agora, a pessoa que não tem tanta folga financeira deve priorizar, no momento da crise, investimentos mais conservadores, de menos risco e maior liquidez. “Um dos problemas da crise generalizada é que a pessoa pode estar bem naquele momento, mas não sabe até quando. Tem um ditado muito famoso da economia que diz assim: ‘recessão é quando seu vizinho perde o emprego, depressão é quando você perde o seu’”, lembra Massaro.
Para não ser pego de surpresa diante de uma interrupção de renda, a recomendação do administrador é dar preferência àqueles investimentos da família da renda fixa, como títulos públicos e os CDBs de liquidez imediata (Certificados de Depósito Bancário com alta liquidez, nos quais o investidor pode fazer o resgate antes do prazo de vencimento). “Quando a crise chega na vida pessoal é preciso ter aquele dinheiro disponível”, aconselha Massaro.
Diversificação da carteira
Montar uma carteira com diversas alternativas de investimento é a mais simples e mais efetiva ferramenta de gerenciamento de risco. Como não há total controle nos investimentos, a saída é diversificar, isto é, espalhar o dinheiro entre várias aplicações, até porque nem todas vão ter um desempenho ruim ao mesmo tempo.
Indicada principalmente para aquele investidor que não possui muito conhecimento sobre os produtos do mercado financeiro, a estratégia de diversificação não é só uma vantagem mas, sim, algo quase obrigatório, independentemente da crise. “Assim como a questão do investimento ter que ser um hábito, com a diversificação é a mesma coisa. Desde o começo, a pessoa tem que entender que não pode concentrar seus investimentos”, elucida Massaro.
Dicas para investir
Para começar a investir os principais requisitos são: conhecimento do mercado financeiro, familiaridade com o assunto e, claro, ter dinheiro. Por mais óbvio que pareça, Massaro explica que muitas pessoas têm recursos, mas estão devendo mais do que aquilo que possuem. Nessa situação, o investimento mais adequado é a reorganização da vida financeira e a eliminação desses endividamentos, que tendem a crescer ao longo do tempo e podem virar a famosa bola de neve.
“Os juros de dívidas como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, por exemplo, são incomparavelmente maiores que os retornos obtidos nas aplicações tradicionais. Por isso, o pré-requisito para investir é fazer um planejamento financeiro de tal forma que sobre dinheiro”, orienta o coordenador do GEAF.
Entretanto, se o momento for de equilíbrio financeiro é interessante, inicialmente, formar uma reserva de emergência, que seria uma quantia equivalente ao que a pessoa precisa para viver alguns meses, caso fique sem renda. “Esse investimento precisa ser feito de forma mais conservadora, podendo ser usado em alguma emergência. Esse dinheiro não pode ficar preso ou ter algum tipo de perda”, esclarece Massaro.
A partir daí, a pessoa pode fazer investimentos um pouco mais ousados, com o objetivo de aumentar seu patrimônio e, para isso, ela pode optar pela renda fixa, renda variável, Bolsa de Valores ou fundos imobiliários. “No caso da Bolsa de Valores, que começa a ter uma certa complexidade e um risco um pouco maior, é interessante começar de forma gradativa, inicialmente com pouco dinheiro, até ficar mais à vontade para fazer uma carteira”, sugere o administrador.
A última dica, mas não menos importante, é: não comece a investir por modismo, pois isso pode não ter continuidade. “O importante é fazer com que o investimento seja um hábito inserido dentro de um planejamento financeiro maior”, conclui Massaro.
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